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domingo, 20 de dezembro de 2015

E DEPOIS

fonte da foto:www.funeralhome.com.br


E depois de cumprir o protocolo da morte fomos cada qual para sua casa. No dia seguinte eu já estava almoçando com uma amiga, numa conversa que durou horas. Então veio a segunda-feira e prossegui na semana: trabalhei, descansei, não tive como ir à missa de sétimo dia. Percebo que o tempo tem passado e, em meio a essa continuação obrigatória, viver agora é como lançar mão de subterfúgios. Ao mesmo tempo, vive-se também por querer, e eu quero.

A verdade é que o protocolo não terminou lá. Protocolo de morte não é formalidade nem obrigação. É uma parada necessária, um silêncio, uma contemplação. Momento de respeito à memória da pessoa mesmo enquanto os carros passam. Lembranças únicas, desacertos únicos, risadas únicas. Com outras pessoas seriam outras coisas. Por isso na casa dessas lembranças fica esse vazio. Como uma festa que acabou de acabar. E o salão, com sua ressaca e aromas, precisa ser organizado e limpo. Mas ali nunca se realizará outra festa igual.

O sobrado na Paulista onde meu amigo foi velado pareceu-me um último refúgio de conforto. Ali ele permaneceria por algumas horas. Certamente outros e distintos eventos, em diferentes décadas, ocorreram no casarão. Em seus cômodos amplos, com o pé direito alto, ou duplo, imaginei ouvir ecos de vozerio e risos do passado. Como se a gargalhada do próprio Airton se sobrepusesse ao pesar discreto da família e dos amigos.

Condolências, abraços em parentes, amigos, minha intimidade de anos com essas pessoas ressalta um dos méritos do Airton, o seu jeito de incluir a todos. Palavras com uns, com outros, o pensamento, no entanto, é solitário. Trata-se daquele momento em que ainda não somos capazes de estabelecer um passado para a pessoa, sequer um presente para nós mesmos.     

Partindo do velório, ganhamos a Paulista numa noite iluminada e triste. E eu agradeço à minha prima Luiziane e ao meu outro amigo Eduardo por cada instante em que estiveram comigo.

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