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sábado, 22 de agosto de 2015

RECADO A UMA ANIVERSARIANTE

fonte da foto:http://meumecanicoweb.com.br/blog/?p=559


Manter-se jovem não é querer barrar o tempo. Nem gastar horas com cremes, academia ou bisturi. Manter-se jovem seria conservar a personalidade com o entusiasmo pela vida. Ah, sim, e se possível nem saber o que é sentir inveja de outra mulher. Manter-se jovem, cara aniversariante, é talvez manter os próprios demônios, ou diabinhos, que sejam, sob controle próprio. Afinal, se cada qual tem os seus, não convém misturá-los.

Se bem recordo, eu a conheci num dia de festa. E nos meus registros sonoros e visuais ficou esse seu sorriso. Um sorriso de força. É difícil explicar um sorriso de força. Não significa sorriso forçado, mas por outro lado é a força, sim, que o impulsiona. Ora, no dia a dia, na nossa interação com o mundo interno e externo, nem sempre dá para manter o sorriso. Menos ainda a gargalhada. Ter um sorriso de força significa ter força para sorrir. Trata-se, pois, de vontade e aptidão. 

Não é difícil ver por aí, ao volante, mulheres conversando com o espelho. Mulheres empunhando a maquiagem no semáforo vermelho. Imagino que às vezes essas conversas não resultam em coisa boa. E estejam elas indo a uma festa ou não, essa aparência é uma dimensão do silêncio. Não implica em juventude nem alegria. Com você, cara aniversariante, essa sua juventude clara, imutável nestes anos em que a conheço, tem cor e também som. É barulhenta, expressiva, porque a juventude, como os diabinhos, precisam da desordem. Entra ano e sai, e com você parece que a festa continua.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

POLITICAMENTE INCORRETO


fonte da foto:http://globotv.globo.com/rede-globo/zorra-total/v/umbirlandia-tenta-ajudar-mais-uma-comunidade/2720113/

Eu hoje tive a ideia de um cartaz a ser colocado na sala de espera no meu trabalho: "Atendimento a pobres é muito difícil. Contamos com a sua colaboração". Não posso nem imaginar a repercussão e as consequências disso: escândalo, processos, sanções. Todos, na internet, na TV, na imprensa escrita, contra a gente. Não importa. Uma hora a poeira iria baixar. Mas o cartaz continuaria ali para simples reflexão.

E daí, ao ler ou reler as frases, garanto que todo cliente agiria de forma a não ser apontado como o pobre daqueles dizeres. Nem pelos funcionários e nem pelos outros clientes. A verdade é que ninguém gosta de ser tachado de pobre ou de difícil pela opinião pública. Ouso dizer que dói mais do que xingar a mãe. Pois afinal o que é ser pobre? Não ter dinheiro, status, bens? Não ter beleza, porte, elegância? Ou seria não ter educação, cordialidade? Pobreza seria não saber falar bonito ou só saber gritar? Pobreza seria não saber esperar, não saber ouvir? Pobreza seria justificar o não cumprimento das obrigações pela própria pobreza?

"Coisa de pobre" é, digamos, uma grife tão indesejada, não importa a classe social do indivíduo, que eu imagino que os dizeres do cartaz remeteriam as pessoas aos mais diversos pensamentos. Talvez só por isso já fizessem menos barulho e estardalhaço no local que muitos consideram a casa da Maria Joana. Ou da sogra deles.

sábado, 8 de agosto de 2015

FELICIDADE



Não obstante o tempo passa. Rápido, devagar e sempre alheio à nossa percepção. Se não fizermos nada, o tempo passará; e por mais que façamos continuará passando. É hoje uma coisa, uma prioridade; lá na frente já é outra, modificada ou com muitas dissipações.

Dias desses eu falava com Fernando, amigo das antigas, em rede social. Conversamos sobre o tempo em que convivemos com a escrita no laboratório de redação. Junto disso vieram as lembranças, as constatações mútuas sobre temperamento, anseios e, afinal, sobre envelhecer. Eu sempre achei Fernando uma pessoa simples, o que nunca significou um ser simplório. Simples para mim é quem não complica. E quando ele afirmou que "envelhecer é o que nos resta", certamente não quis dizer que é a única coisa que resta.

Desconfio que envelhecer implica em melhor aproveitar a implacabilidade do tempo. Aproveitá-la, na medida do possível, e também na do impossível, com boas tarefas, bons sentimentos, boas lembranças. Ainda tenho o chaveiro com logograma chinês da palavra felicidade, que ganhei do Fernando num aniversário. Uma forma simplificada para uma ideia abrangente. Fernando acertou em cheio no presente e naquilo que ainda hoje ele representa. E é uma felicidade, passado tanto tempo, poder falar sobre isso.