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sábado, 28 de novembro de 2015

É COMIGO?





Se uma flor cruzar o teu caminho pode ter certeza: é com você. Se você não reparou bem e alguém te avisou, é com você. Se você até a avistou mas não deu muita importância, trate de dar, pois é com você.

Eu, que muitas vezes pratico a procrastinação em coisas fundamentais, como por exemplo deixar de dizer, deixar de fazer, deixar de olhar, deixar de elogiar, deixar de tocar, fico sujeito a arrependimentos. Por isso hoje dou boas vindas a estas palmas, que se floresceram no meu quintal, muito superlativamente são comigo. Mesmo que eu não as tenha plantado, mesmo que não seja eu a regá-las. Até mesmo as florescidas na entrada da garagem da casa da minha mãe, são comigo. Se não faço isso hoje, amanhã elas já partiram. 

E quem por acaso estiver lendo este texto, tenha certeza: estas palmas todas são com você.



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

HOTEL DALI




A escolha de um hotel tem relação com o destino de uma viagem. E é na hora de escolhê-lo que entram em jogo nossas expectativas, nosso subjetivo "custo-benefício". Após adentrar o espaçoso hall do edifício, subo no elevador rumo ao segundo andar. É elevador dos antigos, daqueles que por fora se visualiza a estrutura de ferro. Antes de conseguir desembarcar dele, preciso que o Marco me explique como abrir a segunda porta. A recepção já começa de forma simpática. Marco é o dono do hotel, com quem eu havia trocado e-mails a partir da confirmação da reserva. Calmo, educado, atencioso. Entrega-me um mapa da cidade, explica que do hotel se tem acesso, a pé, aos principais pontos turísticos: "tutto camminando". Dada a empatia, constato que estou mesmo falando com o rapaz elogiado nas avaliações do hotel. Recebo as chaves e sou conduzido por ele ao meu quarto.



Assim começa Florença para mim. E falar de Florença, dos inacreditáveis e variados museus, das ruas estreitas do Centro, dos ofegantes, espiralados e vertiginosos degraus da Duomo, da culinária saborosa, dos habitantes, deverá valer outros capítulos.










No dia seguinte conheço Samanta, esposa de Marco. Uma mulher meiga, acolhedora, com um dom maternal, digamos, para a comunicação. Entende o português, fala algumas frases e, segundo ela própria, tem vontade de aprender mais. Próximo de partir, descubro que ela aprecia alguns cantores brasileiros e se revela mais ligada em arte do que em finanças.

Das inúmeras vezes em que subo e desço os dois andares do hotel, na tranquilidade do dia ou no silêncio da noite, uma certeza: encontrarei o quarto limpo, arrumado, cheiroso e com a bandeja reposta por croissant, torradas e bolachinhas. Se for antes das 19 horas, talvez encontre Domenica na recepção, prestativa e simpática, ou algum outro funcionário receptivo. Sem falar que também encontrarei a confortável cama e o ambiente aquecido. Coisas que remetem ao conforto da própria casa. Fora dali, uma cidade lotada de turistas, a profusão de idiomas nas ruas, nos restaurantes, nas 'gelaterias'. E de repente caio em uma das vielas desertas para desfrutar da mais completa solidão histórica: as paredes dos prédios sussurram para mim. É muita história em Florença. É muita arte em Florença.

Marco sugere e reforça: passeio em Siena. Que eu vá com calma, que caminhe por lá sem pressa. Sim, eu vou. Subo e desço as ladeiras milenares como num filme medieval. Vou também à Pisa, que de tão absurda a ideia da torre torta, pareço estar dentro de uma animação.




Apreendo com Marco e Samanta algo que eu quis buscar na Itália: interação. Interação com um povo cuja cultura, pela imigração em São Paulo, é muito próxima da gente. Já perto de partir, quando ambos me perguntam como é a vida em São Paulo, faltam-me palavras, italianas e portuguesas, para explicar. Quero mais da Itália, quem sabe voltar falando um pouco do idioma. Quero saber expressar, com a veemência italiana, de quem jamais transforma 'a' em 'ã', o que é partir de Florença. 

Minha mala fica na recepção do hotel antes de uma última visita à Catedral de Duomo. No meu retorno, Marco infelizmente acabou de sair. E na selfie em que estariam três, uma cara lembrança de Firenze, somente dois. Grazie mille, Marco e Samanta, pela Itália que me fizeram conhecer.