TARDE DEMAIS

UM CERTO TEMPO DE ESCRITA NÃO ME DÁ NENHUMA CERTEZA. SE SOU MADURO O SUFICIENTE PARA ESCREVER SOBRE ISSO OU AQUILO, SE DEVERIA ESCREVER SOBRE OUTRA COISA NO LUGAR DAQUELA, SE HÁ ALGO QUE EU DIGA QUE DE VERDADE POSSA INTERESSAR.
QUESTÃO DE METALINGUAGEM E INQUIETUDE PESSOAL. A ESCRITA É UM EXERCÍCIO OBSTINADO DE COMUNICAÇÃO E ARTE. EXISTE UMA CRÔNICA DE FERNANDO SABINO CHAMADA "O PREÇO DA ADMISSÃO" NA QUAL ELE FAZ REFLEXÕES SOBRE A IMPRECISA ARTE LITERÁRIA. NUM DETERMINADO TRECHO, COMENTANDO SOBRE UMA DONA DE CASA QUE PRETENDIA ESCREVER UM LIVRO, SABINO SUPOSTAMENTE PERGUNTA A ELA COM QUE INTENÇÃO. CONTINUA DIZENDO QUE SE ESSA PERGUNTA FOSSE FEITA A ELE, NÃO SABERIA RESPONDER.
DAÍ O DESERTO EM QUE SE ENCONTRA QUEM ESCREVE. A LITERATURA TEM UMA FUNÇÃO IMENSURÁVEL, NÃO VIVE SEM O METAFÓRICO, MAS QUEM A PRODUZ CONVIVE COM AS PRÓPRIAS DIFICULDADES. TALVEZ A MAIOR DE TODAS SEJA A DE FIRMAR-SE AO MESMO TEMPO COMO SER PENSANTE E SER SUBJETIVO.
COM ACESSO A TANTAS INFORMAÇÕES E NOTÍCIAS, NOSSO UNIVERSO É UM BOMBARDEAMENTO CONSTANTE DE FATOS LITERAIS, OBJETIVOS. VIVEMOS UMA GUERRA DE NÚMEROS, ÍNDICES, E QUANTO MAIS CORREMOS ATRÁS DELES, MAIS ATRASADOS FICAMOS.
TARDE DEMAIS. NÃO HOUVE ESTUDOS DE OCUPAÇÃO DE SOLO EM CONJUNTO COM UMA POLÍTICA DE PROVIDÊNCIAS QUE EVITASSE O DRAMA DAS ENCHENTES NO RIO DE JANEIRO. FAZ-SE A COISA DO JEITO ERRADO, SEM PLANEJAMENTO, SEM FISCALIZAÇÃO E EM SEGUNDOS A ÁGUA ARRASTA CASAS E VIDAS.
TARDE DEMAIS. LIBERA-SE UM CRIMINOSO PSICOPATA QUE EM TEMPO RECORDE MATA SEIS JOVENS. NÃO HOUVE CRITÉRIO FERRENHO NA SOLTURA DO ASSASSINO, NÃO HOUVE EMPENHO DA POLÍCIA JÁ NO DESAPARECIMENTO DO PRIMEIRO JOVEM EM LUZIÂNIA, NÃO HOUVE CUIDADO ESPECIAL COM O ASSASSINO E O PRÓPRIO É ENCONTRADO MORTO NA CELA.
TARDE DEMAIS PARA O ANTES, O MEIO E O DEPOIS. BUSCAR A SUBJETIVIDADE NUM AREAL DE ESPINHOS ÀS VEZES ENVERGONHA. COMO PENSAR EM ARTICULAÇÃO DE FRASES ENQUANTO AS TRAGÉDIAS SE ANUNCIAM EM ALTO-FALANTES? COMO FALAR DO INTERNO SE O EXTERNO É MAIS PODEROSO EM SEU ESTRAGO? TALVEZ PORQUE, NA ESSÊNCIA, UM NÃO EXISTE SEM SER EM FUNÇÃO DO OUTRO.
DENTRO DO ESPAÇO DE UM BLOG EU NÃO CONSIGO SAIR DA NOSSA REALIDADE. MAS MEU OBJETIVO TAMBÉM DECLARADO É O DE BUSCAR ATRAVÉS DAS LETRAS ALGUMA CONSIDERAÇÃO ILUMINADA. E SEGUIR ESSE OBJETIVO TENDO A CONSCIÊNCIA DE QUE NÃO HÁ CONSERTO PARA AS AÇÕES CONJUNTAS SEM UM ESFORÇO E SINCERIDADE NAS AÇÕES INDIVIDUAIS.
A LITERATURA, E QUEM A PRODUZ, PRETENDE UM RESULTADO BONITO, UMA LIÇÃO PRAZEROSA, INDEPENDENTEMENTE DO MATERIAL QUE A MOTIVA. A LITERATURA QUER DESVENDAR O SER SUBJETIVO POR TRÁS DO ASSASSINO, POR TRÁS DO POLÍTICO OU COMANDANTE RESPONSÁVEL NESTA OU NAQUELA OMISSÃO, AINDA QUE DESCONSIDEREMOS UM E OUTRO.
POSSO DIZER QUE A MINHA LITERATURA É UMA BUSCA DE IDENTIDADE: DA MINHA, DA ALHEIA, DA NAÇÃO. PASSAR POR ESTAS LENTES REQUER PACIÊNCIA E ACEITAÇÃO DO OUTRO E DE SI PRÓPRIO. NUNCA ESTOU CERTO DO CAMINHO ESCOLHIDO. PORÉM, QUANDO OUÇO E LEIO COISAS AO REDOR DOS FATOS E DO MEU PENSAMENTO, VEJO QUE NÃO ESTOU SOZINHO E TALVEZ NÃO SEJA TARDE OU INÚTIL FALAR DISSO OU DAQUILO.
PRIORIDADE NA ESCRITA É REFLEXÃO. ELA ENCORAJA, REJUVENESCE E PARA ALGUÉM, EM ALGUM TEMPO OU LUGAR, IRÁ INTERESSAR.