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terça-feira, 8 de julho de 2014

NA DERROTA DA SELEÇÃO NO BRASIL


O dia da derrota histórica da seleção brasileira para a Alemanha, por acaso hoje, começou chuvoso e agradável. Na última das dez sessões de fisioterapia a auxiliar foi mais simpática comigo. No ponto de ônibus um senhor abriu-me um sorriso e comentou sobre a chuva. Fraca para aumentar o índice de qualquer dos sistemas de abastecimento, mas boa para melhorar a qualidade do ar. Em menos de três minutos de conversa ele contou-me que em 50 anos de São Paulo jamais presenciara uma seca igual. Disse que Sampa tinha sido mesmo a terra da garoa, pois se não chovesse cá, chovia acolá. Perguntei-lhe se ele estava aqui nas comemorações do 4° Centenário da cidade em 1954. Sim, estava; tinha 18 anos na época e concordou comigo que o evento fora grandioso e bastante documentado. Pedi desculpas pelo ônibus que chegava, ele afirmou que tinha sido um prazer e, novamente sorrindo, desejou sorte ao Brasil no jogo.

Ao descer do ônibus, vi um cachorro negro e forte acompanhar com o olhar alguém que embarcava no mesmo coletivo. Como já soubesse que não seria autorizado a subir, o animal ficou com aquele ar de tristeza. Passei por ele, fiquei olhando para trás e alguma coisa ou pessoa o fez vir correndo na minha direção. Já imbuído de uma força, o cão era outra vez dono da própria vida. Quando de novo olhei para trás, ele havia sumido, e eu assim encontrei outra razão para não ficar triste.

Depois do jogo, já atravessando a cidade deserta, no ponto próximo do Clube Esperia subiu um grupo de seis mulheres no coletivo. Simpáticas, cinquentonas, quase silenciosas, diziam entre si, na brincadeira, que hoje seria de graça porque o Brasil havia perdido. Creio que se referiam a não pagar a passagem que já tinham pago com seus vale-transportes. Ainda reclamaram que "ele poderia ter dispensado a gente na hora do jogo". Carregavam sorrisos no rostos, e uma disposição física e de alma. Desceram todas no ponto seguinte, esquina com a avenida do Estado. Enquanto uma delas corria para alcançar as outras que se embrenhavam sentido estação Armênia, matutei comigo quem eram as trabalhadoras de verdade do Brasil. Vê-las em destaque na deserção das ruas, mais felizes que infelizes, deu-me um alento.

Quanta coisa de graça podemos receber ao longo de um único dia.
O placar: sete a um para a Alemanha. Inacreditável.