fonte da imagem: http://encantadorespoemas.blogspot.com/2010/11/dizendo-adeus.html
Para Sarita Palhoni de Souza
Cara amiga dissidente: ontem,
sexta-feira, a caminho do trabalho, eu fui arrebatado numa carona pelo teu
marido. Bom ser encontrado por pessoas que gostamos em lugares inimagináveis. Melhor
ainda trocar um pensamento monótono por uma conversa carinhosa. Já me ocorreu
ser arrebatado da mesma forma em outras ocasiões. Equivaleu a perder meu
ilusório controle das coisas. Às vezes, quem nos encontra nem percebe que pode
nos ter salvado do precipício.
Hoje em dia, amiga dissidente, ver
você ou teu marido, separadamente, é sempre me lembrar do outro. Por isso ontem
nos lembramos de você, e falamos de você pela primeira vez desde que você
deixou de trabalhar comigo. No passado, quando era com o teu marido que eu
trabalhava, quando apenas ele era meu amigo, e quando ocorria dele falar de
você, eu não sabia bem quem era você. Depois, afastados eu e ele por
contingência, quando passei a conviver com você, a conhecer você, foi que
também o conheci de outras maneiras através de você.
Enfim, amiga dissidente, você se
foi num dia em que eu não estava. E quando cheguei, mal absorvi. Bendita essa
nossa função que amaldiçoadamente não nos deixa com tempo de pensar. No mínimo,
de forma egoísta, ela nos lembra de que temos uma funcionária a menos para
ajudar. Confesso que mais fiquei triste com a tua partida. Não que não deseje um
lugar melhor para você. Mudanças têm seu próprio efeito. E nós -eu, você, teu
marido- há tempos lidamos com despedidas diversas. Tantas ao longo dos anos que
andei usando a própria engrenagem do trabalho como desculpa para não sentir as
ausências.
A tua distância, no entanto,
amiga dissidente, rebateu. Talvez por causa do teu jeito de ser. Eu já li em
algum lugar que a canceriana transforma o ambiente de trabalho na sala de estar
da sua casa. Essa sala me faz falta. É como perder um entendimento que é só
teu. Alguma parte, amiga dissidente, de um lar. A tua saída também me fez
refletir no quanto tenho estado aqui. Pessoas vêm e vão, e eu vou ficando. Não sei
se tem a ver com ser forte ou fraco; sei que o tempo passa, nós passamos, a saudade
deixa rastro, e alguém precisa escrever sobre isso.
Então, se tiver que ser eu, amiga
dissidente, que seja eu.
Tinha que ser você meu caro e amado amigo julio
ResponderExcluirObrigado, amada amiga. Beijo grande.
Excluir