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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

PAULO MALUF PRESO

fonte da foto: https://veja.abril.com.br/brasil/maluf-se-entrega-a-policia-federal-em-sao-paulo/

A imagem do deputado Paulo Maluf, de bengala e apoiado por agentes ao se entregar na sede da Polícia Federal, seria apenas patética se não fosse triste. Triste porque mostra uma faceta de um país envelhecido-assim como o senhor Paulo-e que ainda concede a corruptos, e a outros tipos de bandidos endinheirados, o benefício da postergação. Paulo Salim Maluf, 86 anos, com hérnia de disco, problemas cardíacos e câncer de próstata, ainda é o protagonista de sua história, que do ponto de vista da justiça, diga-se de passagem, pode virar apenas um mise-en-scène para plateias. Acusado de desvio de dinheiro num mandato de mais de vinte anos, essa “condenação” parece um trapo velho remendado que ninguém sabe quanto vai durar. Que o dinheiro, ou parte dele, volte para os cofres públicos, fica a incerteza se não será de novo desviado.

O Brasil da Lava-Jato nos deu um alento, uma sensação de cidadania nunca experimentada. Mas o ranço das pequenas corrupções-que se transformam nas grandes-da falta de educação, do coronelismo e do trabalho escravo vigente, ainda nos encurrala. Oxalá não se precise assistir a outras prisões tardias. E que de 2018 em diante não mais nos lembremos do jargão “rouba, mas faz”, nem do quanto ele representou paixão política, totalmente descabida, para alguns.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

LARGADO

fonte da foto: http://duusouza.blogspot.com.br/2011/01/vida-repetida.html

Outro dia me perguntaram se eu dirigia. Respondi que “nem a minha vida”. Então acharam graça. Só que a graça durou pouco. E mais tarde percebi que havia queimado o meu filme. Era uma conversa a dois. Não se confessa certas coisas, ainda que de brincadeira. Neste mundo de atitudes, admitir inabilidade com a própria vida, ou indiferença, é declarar-se um João Ninguém.

Aviso aos navegantes: sou vacinado, financeiramente independente, bastante organizado e atento com o meu mundo interior. Dirijo, sim, tanto quanto posso, as minhas palavras impressas. Às vezes perco delas, às vezes me perco nelas. Não raro misturo-me à multidão a fim de observá-la com tranquilidade. Quando quero saio às ruas com tênis furado. Penso saber ser com outra pessoa: já entrelacei dedos, dormi abraçado, tive noites de Natal. Também já vaguei noites, tão sozinho quanto feliz. Não dirijo veículos, mas sei remar num caiaque, e sempre pronto para me perder no mar.

Se um dia você me vir nessa aparência, mero vagabundo, mera coincidência, feito Gilberto Gil também tenho família, pelas quebradas livre e largado, livre te falo: uma estrela, somente uma, cintilasse na noite paulistana desarranjada, eu e você por aí, fazendo tudo, fazendo nada.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

AS PALMAS



As palmas de casa voltaram. Como todo ano, florescem nesta época. Vermelhas no canteiro da garagem, rosas no muro dos fundos. Chegam fechando a primavera e abrindo o verão. Beiram o Natal. Aprendi com as palmas sobre esquecer: não penso nelas o ano inteiro. Não tem problema. Problema é não olhar para as coisas fundamentais. Problema é insistir nas batalhas já perdidas. As palmas, em seu fulgor e beleza, são a medida de uma única chance. É quando paro tudo para olhá-las. Porém, ainda que eu não as visse, no ano seguinte elas estariam aqui. Novamente aqui.