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domingo, 14 de agosto de 2016

SONHOS NÃO CONFIÁVEIS

fonte da foto: http://mapio.net/o/93711/

"Amanheci na orgia. Comi quem eu pude, nem vi quem me comia."
Um bêbado solta essa ao passar pelo ponto de ônibus hoje cedo. Todo mundo ri. Um grupo de jovens vindo da noitada faz uma algazarra:
"Então você gostou, hein, tio?"
O homem ri junto, responde alguma coisa e segue bambo.

Quando o ônibus sai, a claridade nublada já despontou. Fazia tempo que eu não amanhecia na rua. Tinha esquecido como é bonito o amanhecer. Mesmo com a percepção alterada de quem não dormiu, vejo a aurora ampliar a avenida Cruzeiro do Sul, quase deserta de carros e gente. Entre um cochilo e outro, a chegada em casa é rápida. Próximo das sete horas, resta-me comer e dormir.

Então vêm os sonhos. Eu preciso me livrar das camisetas que abarrotam meu armário. Preciso arrancar este botão de roupa cravado na minha gengiva, que enxergo pelo espelho. Mas a confusão impera, como em todos os sonhos povoados de resíduos da vida. Amontoado de sentimentos de uma vigília de mais de vinte e quatro horas. Havia eu me excedido num desejo tolo de prolongar o dia? Ou as vitórias?

Por fim, na divisa entre o sono e o despertar, acordo de vez neste início de tarde de sábado. Nem imagino o que o bêbado fez ou fará nas próximas horas. Mas logo lembro que um cesto cheio de roupas sujas espera por mim.

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