Páginas

terça-feira, 5 de agosto de 2014

SURTO


fonte: http://motite.blogs.sapo.pt/o-tigre-o-menino-e-o-transito-110393?page=30#comentarios


Misturar alho com baralho não é a minha.
Assim como discutir muito abertamente assuntos que exponham minha atividade de trabalho. Entendo escrita como outra dimensão, mas sinto uma bonita inveja de quem consegue escrever com propriedade sobre as mazelas da nossa atual cultura urbana.
Hoje no trabalho foi O dia. Uma cliente -se é que é justo chamar assim alguém que 'invade' um órgão público com comportamento infantil- interrompeu mais de uma vez meu atendimento a outra cliente, e queria a todo custo ultrapassar outras duas pessoas que haviam chegado antes dela. Como não cedi ao seu capricho, ela se desmanchou num berro espasmódico dizendo que eu era um 'grosso'. A minha chefe, lá de longe, levou arroubado susto e toda a assistência ficou estupefata. É que berro foi pouco para o esforço animalesco da moça. Chamo-a de moça porque não era velha, porém, adulta o suficiente para entender o que até o meu cachorro, quando tínhamos, entendia: hierarquia e respeito. A forma como ela teve que contorcer os músculos do rosto e as cordas vocais para emitir um som mais alto do que a sua estrutura aguentava, foi algo que impressionou até os adultos. Nunca vi um ódio tão imperativo e tão artificialmente expresso.
São esses os adultos mimados, que não aceitam um 'não', que não aceitam esperar, que têm na dimensão de si mesmos algo maior, e mais conturbado, do que a sua própria existência. Não se enxergam como parte de uma sociedade, de um sistema, de uma fila. Vivem centrados em suas próprias necessidades e são talhados num comportamento antissocial a despeito, ou até pelo motivo, de viverem numa megalópole. 
Por isso resolvi aqui compartilhar novamente o texto que já compartilhei em outra mídia (logo abaixo da foto lá em cima) sobre o episódio do menino que teve o braço inteiro decepado pelo tigre, e a inteligente discussão do autor acerca de obediência, respeito e cidadania. E como que a ausência disso tudo, a meu ver, pode representar uma passagem natural para a prática da contravenção e do crime.
Pois O dia ainda não havia terminado. Um outro rapaz, com o mesmo comportamento 'hedióta' da mocinha infeliz, insistiu em interromper outro atendimento meu, a fim de que eu respondesse à sua dúvida. Quando reproduzi a ele o absurdo do seu desejo imediatista, o mancebo, embora não tenha gritado, afastou-se e foi-se embora, gesticulando, feito criança, como se de mim tivesse levado um pito. Pessoas assim saem errantes pelo mundo. Porém, na maior parte das vezes, costumam revidar aos 'nãos' com outros e piores tipos de violência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário