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sábado, 19 de setembro de 2015

NÃO AMANHECEU EM SÃO PAULO

fonte da foto:http://guerraheroica.blogspot.com.br/2014/01/van-helsing-vs-killer-instinct.html

No penúltimo domingo praticamente não amanheceu em São Paulo. Foi um dia nascido já no entardecer. Entardecer galopante e frio, um fio para a escuridão. Eu estava me sentindo na Transilvânia. Tinha a impressão de que caso saísse às ruas poderia ser caçado por algum vampiro. Daqueles voadores do filme Van Helsing, que na maioria eram mulheres medonhas. Vampiros são ao mesmo tempo sinistros e melancólicos. E toda melancolia se agrava na ausência do sol.

Por outro lado, o frio e o tempo encoberto reforçam em mim os compromissos. Como se eu tivesse que resolver pendências enquanto a claridade não chega. E depois, lá no verão, descambasse a fazer tudo de errado e gostoso. Para os educados a folia é o presente pelo cumprimento das obrigações. Porém, confesso: excesso de sol me deixa frouxo e pecador. Será que a nossa nação também padece disso?

Hoje, neste sábado quase primavera em que o verão seco volta a atacar, meus medos ressuscitam vampiros piores. Eu vejo demônios sugando nascentes; criaturas aladas soprando nuvens de chuva para longe; monstros bocudos aspirando a umidade do ar. Visões infernais em oposição à melancolia do penúltimo domingo. Domingo frio, introspectivo, em que os vampiros passearam mais na imaginação.