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sábado, 16 de agosto de 2014

SELFIE DE SÁBADO



Encontrar com Simone Barbour, minha 'chefe', eu a caminho do supermercado, num sábado monótono, e ganhar um beijo e abraço de sua filhinha Elis, não tem preço.


Algumas surpresas do dia a dia, de aspecto tão prosaico, revelam em sua essência algo difícil de descrever. Eu poderia encontrar com qualquer pessoa desagradável, algum político que está no poder, e ver estragado o meu resto de dia. Seriam segundos para azedar de vez como foram para alegrar espontaneamente.
Já tive no passado uma chefe amiga e confidente, Maria de Fátima, com quem, junto com a galera da loja, ia a bares e às vezes virávamos o sábado. Outros tempos.
Agora, lembrando que o sábado não tem sido assim tão monótono, uma mensagem via fone, resposta para outro algo impalpável ou, quem sabe, bastante apalpável. Um elogio também. Ah, e um convite agradável de amizade via Facebook. É, os tempos mudaram.

E o tempo, nublado numa garoa mixa sem dar fé, na saída do supermercado a maior chuva lá fora me faz esperar. Mas isso é outro preço.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

SURTO


fonte: http://motite.blogs.sapo.pt/o-tigre-o-menino-e-o-transito-110393?page=30#comentarios


Misturar alho com baralho não é a minha.
Assim como discutir muito abertamente assuntos que exponham minha atividade de trabalho. Entendo escrita como outra dimensão, mas sinto uma bonita inveja de quem consegue escrever com propriedade sobre as mazelas da nossa atual cultura urbana.
Hoje no trabalho foi O dia. Uma cliente -se é que é justo chamar assim alguém que 'invade' um órgão público com comportamento infantil- interrompeu mais de uma vez meu atendimento a outra cliente, e queria a todo custo ultrapassar outras duas pessoas que haviam chegado antes dela. Como não cedi ao seu capricho, ela se desmanchou num berro espasmódico dizendo que eu era um 'grosso'. A minha chefe, lá de longe, levou arroubado susto e toda a assistência ficou estupefata. É que berro foi pouco para o esforço animalesco da moça. Chamo-a de moça porque não era velha, porém, adulta o suficiente para entender o que até o meu cachorro, quando tínhamos, entendia: hierarquia e respeito. A forma como ela teve que contorcer os músculos do rosto e as cordas vocais para emitir um som mais alto do que a sua estrutura aguentava, foi algo que impressionou até os adultos. Nunca vi um ódio tão imperativo e tão artificialmente expresso.
São esses os adultos mimados, que não aceitam um 'não', que não aceitam esperar, que têm na dimensão de si mesmos algo maior, e mais conturbado, do que a sua própria existência. Não se enxergam como parte de uma sociedade, de um sistema, de uma fila. Vivem centrados em suas próprias necessidades e são talhados num comportamento antissocial a despeito, ou até pelo motivo, de viverem numa megalópole. 
Por isso resolvi aqui compartilhar novamente o texto que já compartilhei em outra mídia (logo abaixo da foto lá em cima) sobre o episódio do menino que teve o braço inteiro decepado pelo tigre, e a inteligente discussão do autor acerca de obediência, respeito e cidadania. E como que a ausência disso tudo, a meu ver, pode representar uma passagem natural para a prática da contravenção e do crime.
Pois O dia ainda não havia terminado. Um outro rapaz, com o mesmo comportamento 'hedióta' da mocinha infeliz, insistiu em interromper outro atendimento meu, a fim de que eu respondesse à sua dúvida. Quando reproduzi a ele o absurdo do seu desejo imediatista, o mancebo, embora não tenha gritado, afastou-se e foi-se embora, gesticulando, feito criança, como se de mim tivesse levado um pito. Pessoas assim saem errantes pelo mundo. Porém, na maior parte das vezes, costumam revidar aos 'nãos' com outros e piores tipos de violência.