EU SAÍ DA PISCINA NO SESC SANTANA E FUI DAR UMA OLHADA NA EXPOSIÇÃO 'DISSONÂNCIAS'. LOGO ESTAVA ENVOLVIDO COM A MONITORIA DE UMA GAROTA MUITO ATENCIOSA. PELO FATO DA EXPOSIÇÃO TODA SER PEQUENA E ESTAR QUASE VAZIA NAQUELE HORÁRIO, A JOVEM PARECIA INTERESSADA EM DESENVOLVER SEU TRABALHO E ALGUMA COMUNICAÇÃO.
QUASE SEMPRE COSTUMO FUGIR DE MONITORIA, PRINCIPALMENTE NAQUELAS EM QUE O MONITOR DESCAMBA A FALAR SEM TRÉGUA. DAÍ NÃO HÁ TROCA, A CONVERSA CANSA E, COMO OUVINTE, SINTO-ME ACORRENTADO. POR OUTRO LADO, ACHO DESAGRADÁVEL FAZER DESFEITA COM QUALQUER PESSOA. O TRUQUE, ENTÃO, É NÃO OLHAR MUITO, SE POSSÍVEL NEM OLHAR, PARA OS MONITORES.
COM ESSA GAROTA A COISA NÃO COLOU. MESMO PORQUE ELA ERA AGRADÁVEL APENAS COM A SUA PRESENÇA. FALAVA DE FORMA SUAVE, COMEÇOU EXPLICANDO QUE UMA DAS INSTALAÇÕES 'DEVERIA' FUNCIONAR DE TAL MANEIRA, MAS NÃO ESTAVA FUNCIONANDO. PERCEBI ALI O CANTO DA SEREIA.
A INSTALAÇÃO ERA A SEGUINTE: UM VÍDEO DE PÁSSAROS POUSANDO EM FIOS TELEFÔNICOS PROJETAVA-SE SOBRE AS CORDAS (REAIS) DE UM ANTIGO PIANO. O MOVIMENTO DOS PÁSSAROS ACIONAVA SISTEMAS QUE FAZIAM SOAR AS CORDAS DO PIANO. MUITO LOUCO. POIS BEM, A PARTE SONORA É QUE NÃO ACONTECIA. O VÍDEO DOS PÁSSAROS RODAVA, MAS NÃO SAÍA SOM DAS CORDAS DO PIANO.
POIS FOI JUSTAMENTE ESSA MÁGICA, NÃO ACONTECIDA, APENAS NARRADA PELA MONITORA, QUE ME LEVOU A IMAGINAR COMO SOARIA A MÚSICA DOS PÁSSAROS. TODA A EXPERIÊNCIA SENSORIAL, VISUAL E MUSICAL DA EXPOSIÇÃO COMEÇOU, ENTÃO, A FAZER SENTIDO.
UMA COISA É DIZER PARA ALGUÉM O QUE TEM DENTRO DE UM QUARTO. OUTRA É ABRIR A PORTA E CONVIDAR A PESSOA A ENTRAR. LIANA, ERA O NOME DA JOVEM, FOI JUNTO COMIGO. APRESENTAVA AS INSTALAÇÕES FALANDO UM POUCO DA INTENÇÃO DO AUTOR. OS OBJETOS PODIAM E DEVIAM SER MANIPULADOS. ELA O FAZIA, DEIXAVA QUE EU FIZESSE. TAMBÉM DIZIA NÃO ENTENDER DETERMINADA COISA AQUI E ALI, ALGO QUE UM MONITOR MAIS ORGULHOSO JAMAIS DIRIA.
ASSIM FOMOS TROCANDO EXPERIÊNCIAS, CONVERSANDO BASTANTE E QUANDO CHEGAMOS AO FINAL DA EXPOSIÇÃO EU ESTAVA COMENTANDO DA MINHA VIDA: QUE JÁ TINHA SIDO MONITOR NO PRÓPRIO SESC, QUE ESSE HAVIA SIDO O MEU MELHOR TRABALHO, QUE CIRCUNSTÂNCIAS DE SOBREVIVÊNCIA TINHAM ME LEVADO PARA O DESESTIMULANTE SERVIÇO EM EMPRESA PÚBLICA.
-É MUITO TRISTE-ELA DISSE.
ACHO QUE PELA PRIMEIRA VEZ OUVI UMA OPINIÃO ALHEIA PARECER TÃO SINCERA. OPINIÃO DE ALGUÉM QUE VIU NA MINHA 'MUDANÇA' ALGO MAIS TRISTE DO QUE EU MESMO VI. TALVEZ LIANA SE REPORTASSE A SI MESMA, PENSANDO QUE TALVEZ UM DIA PUDESSE ESTAR MAIS AFASTADA DE UM TRABALHO CULTURAL. NÃO SEI SE ESTOU CERTO.
DE CERTA FORMA FIQUEI FELIZ POR OUVI-LA DIZER AQUILO. FOI COMO SE ALGO TAMBÉM DISSONANTE DENTRO DE MIM COMEÇASSE A RECLAMAR. AO ME DESPEDIR DELA, FIQUEI COM DUAS SENSAÇÕES: A DE NO FINAL TER FALADO MUITO DE MIM E OUVIDO MENOS SOBRE ELA, A DE QUE OUTROS ASSUNTOS PODERIAM SURGIR SE EU NÃO ME DESPEDISSE TÃO RÁPIDO.
DIAS DEPOIS, QUANDO AINDA PENSAVA EM DAR UM OI PARA LIANA, VI QUE JÁ TINHAM DESMONTADO A EXPOSIÇÃO.
